Dia: 06.02.14. Quinta-feira. Local: Tóquio, Japão.
Sobrevivente: Yukimura Wakashimazu
O armário entortou. Meu estômago dilatou. Meus olhos arregalaram. Meus dentes rangeram. Meu suor caiu como gotas de chuva no chão. Aquele monstro – Ou qualquer coisa que seria – estava tentando me tirar de lá a todo custo. Suas garras pareciam afiadas, e percebi que cada vez o armário estava mais amassado… Se eu saísse agora, não sei o que aquilo iria fazer comigo. Aterrorizado fiquei, quando este começou a gritar um horrendo grito de doer os ouvidos. O grito ainda se intensificava por dentro do pequeno local, parecia que meus tímpanos iriam explodir. A sensação de medo cobria-me completamente, mas sabia, tanto eu como meu corpo, que se deixasse o temor me dominar, estaria condenado. Eu estava abaixado por causa dos gritos, mas agora levantei-me e, encarei aquela criatura com os olhos semicerrados. Eu não poderia desistir antes de lutar. Vi que cada vez mais o armário de metal estava se quebrando, amassando, caindo aos estilhaços, enquanto eu, empunhando minha lança com a própria vida, aguardava, ouvindo mais os meus batimentos cardíacos do que aqueles alaridos infernais. Nunca imaginei que um estudante japonês teria de passar uma situação dessas se não em jogos. As grades de metal, que ficavam a altura de meus olhos foram rompidas pelas garras, e com estas, tentou rasgar-me, entretanto, consegui ser mais rápido – Me abaixei e posicionei a lâmina para cima, de modo a encaixar no buraco que o grotesco fez, e fiquei a estocar aleatoriamente em todos os ângulos que pudera realizar. Meu objetivo não era mata-lo desse modo, isso seria tolice, era afastá-lo, desse modo eu conseguiria sair do armário ou para enfrenta-lo, ou para fugir. Para minha surpresa, aquela coisa agarrou o cabo de minha arma! Pelo menos foi o que pensei, quando senti puxões extremamente fortes que quase arrancaram meu ombro. Ficamos em um cabo de guerra. Porém, a coisa mais desesperadora que eu temia aconteceu… Minha lança se quebrou. Quando partiu-se, o impacto foi enorme. Ouvi tanto a criatura derrubando xícaras de café e computadores quanto minhas costas ardendo pela pancada – Vai deixar uma bela de uma marca – de ter batido no armário. Todavia, o problema não era esse… O real pesadelo era que… Meu ombro se deslocou. Com uma tremenda dor e um grito abafado, o vi em uma posição totalmente estranha, e o abalo psicológico foi enorme, aumento ainda mais a dor. Praguejei aquela criatura, praguejei aquela cidade… Praguejei minha vida. Com os olhos cheios de água, aproveitei essa oportunidade, me retirei do esconderijo. Quando meus olhos foram para à esquerda, percebi a criatura de 4 patas olhar-me, enquanto se colocava de pé. E percebi que havia um molho de chaves em um porta-chaves que estava… Pendurado em cima de onde aquilo estava caído. Não sei se foi burrice. Não sei se foi idiotice. Não sei se foi bravura. Não sei se foi inteligência. Mas… Corri em direção do molho de chaves com meu último desejo. O chão tremia a cada vez que o castigava com meus pés. Meu ombro doía como se estivesse em chamas. Meu coração parava ao olhar que estava indo em direção aquela criatura. Ignorando as imagens de eu estar sendo devorado que minha mente transmitia, pulei com um grande salto para a mesa do escritório. Apoiei meus pés naquela madeira que parecia mais uma corda bamba. Sabendo que o monstro poderia pegar-me a qualquer momento, não olhei para trás, e sim para meu objetivo… O bendito molho de chaves! Pulei em direção de meu alvo no exato momento em que experimentai aquele vento vindo das garras que iriam destroçar minha panturrilha. Alcancei-o. Entretanto… Perdi o equilíbrio. Não consegui suportar-me de pé, e com isto, escorreguei no sangue que havia naquele vasto chão e cai pela janela que me levava para a sala de motos novamente. Parecia estar novamente tudo em câmera-lenta. Vi meus braços estarem em pleno ar, o vidro quebrado ter o mesmo amaldiçoado destino que o meu e… Aquilo, saltando daquela janela, mirando seus dentes e garras em minha direção. Eu não sabia o que aconteceria – Eu não sabia. – finalmente, aquela queda que parece ter sido a semana das provas, terminou. Cai no chão, arregalei os olhos e apertei meus dentes uns com os outros com a dor que senti ao bater minha cabeça, meu ombro deslocado, meus braços, minhas pernas e minhas costas, contra aquele chão de cimento. Senti-me bater no solo, flutuar por alguns instantes e novamente bater. Aquela dor… Como a suportei? Meu treinamento de anos? Meu corpo saudável? Minha força de vontade? Ou será… O desejo de salvar as pessoas que eu amo? Somente sei, que ao abater-se, vi que a indivíduo monstruoso iria cair sobre mim, e com certeza para me socorrer não iria ser. Pelos meus anos de treinamento em artes-marciais, meu corpo soube o que fazer naquele exato momento. Levantei minha perna em um ângulo de 45 graus, batendo a sola de meu pé no estômago daquilo, e logo, arremessando ele para cima de minha cabeça, usando a força de meu quadril. Senti os tendões arderem intensamente, mas fui recompensado quando ouvi um intenso barulho de coisas quebrando. Forcei minha cabeça para cima, de modo que eu visse as coisas de cabeça para baixo, e, agora temerosa e monstruosa figura, agora com um cano de moto atravessado na barriga. Um longo sorriso estendeu-se nos meus lábios automaticamente, só para se abaixarem de novo quando o treco continuava a se mexer, na tentativa de dar o fora dali. Aproveitei esses segundos que tinha para colocar meu ombro no lugar – Já que não conseguiria dirigir uma moto só com uma das mãos – peguei uma nacada de madeira – Que antes eram partes da janela, que seguravam os vidros – o coloquei na minha boca de modo a fazer ambos meus dentes molares o mordessem, sentei-me quase como se estivesse desprovido de membros. Aprendi sobre deslocamentos com meu professor de Kung-fu, e logo analisei. Era uma luxação anterior, resultando no deslocamento do úmero. Isso é bom em parte, já que conseguiria colocar de volta ao normal manualmente. Posicionei meu braço em posição de repouso, perpendicular ao chão. Dolorosamente, movi meu cotovelo em um ângulo parecido com o de 90 graus. Girei o braço e o ombro para dentro, em direção ao peito, formando um “L”. Mordi a madeira com tanta força que ouvi estalos vindo dela…E espero que ela não quebre, ou então, “sayonara” dentes. Com meu braço bom, ajudei a puxar – Como aquilo doía – o procedimento certo era ir devagar, porém, não poderia ser concebido tal ato perante o inferno que se estendia em volta de meu ser. Girei o ombro junto do braço para fora, mantendo o braço parado. Fiz um punho com a mão do meu braço danificado, segurei a mão fechada com a mão do outro braço e empurrei lentamente – Mas ao mesmo tempo apressadamente – esperei o antebraço passar dos 90 graus em relação ao peito, e levei meu ombro de volta para sua devida articulação. Repeti esse processo uma, duas, três vezes… Suava frio, pois minha percepção notou, junto de minha intuição, que aquilo iria sair em breve, pois já havia retirado cerca de 40% de seu estômago – Ou o que restou dele – do cano. Mas finalmente, na quarta vez, eu o coloquei no lugar – Senti um grande alívio instantâneo, tanto fisicamente quanto psicologicamente – agora, girei-o lentamente o braço na direção oposta, voltando ao peito, e consegui mexer tanto meus dedos, meus braços, meus cotovelos e é claro, meu ombro. Mas tinha em mente que neste momento, não era hora de comemorar – Teria de sair dali – correndo, percebi algo… Eu estava zonzo, e ouvi barulhos parecidos com o de gotas de água caindo no chão. Mas aquilo não eram gotas de água… Era meu sangue. Meu corpo, cortado em vários pontos graças aos cacos de vidros. A roupa que Kaito me dera havia servido bem, pois, se não a tivesse, teria sofrido dilacerações severas – Obrigado Kaito… – Dizendo-o em minha mente, levantei a motocicleta – Ela tinha de funcionar – já em seu assento, encaixei a chave, e me dei por conta de algo… Não sabia dirigir e nunca o tinha feito a não ser nos videogames. Teria de usar um pouco de meus conhecimentos dos jogos e minha intuição.
Ao girar a chave, até mesmo errei o lado – Estou perdido – pensei por alguns instantes. E para meu terror, escutei aquele terrível brado – Ele havia se soltado – comecei desesperadamente a olhar o painel. Entendia que ali eram os KM/h, o combustível… Tinha conhecimento de é com o guidão esquerdo que eu deveria segurar e puxar para baixo para acelerar… Mas como eu ligava aquilo?! O que eu deveria fazer?! Eu não sei! Eu não sei! Onde se liga?! Como faço para dar ignição?! O que aperto?! Qual botão?! – Me acorrentei ao desespero, ao ver aos poucos, aquele monstro correr em minha direção aos berros. Não iria dar tempo.
—Continua—