Diário de um Sobrevivente

Não deixe o medo devorar você

06.02.14 – Coragem

Posted by YukimuraWakashimazu On fevereiro - 28 - 2014

Dia: 06.02.14. Quinta-feira. Local: Tóquio, Japão.

Sobrevivente: Yukimura Wakashimazu

Não… Não poderia desistir ali. Não depois de ter sobrevivido até agora. Eu não posso falhar – Eu não posso me deixar falhar – Olhei para os painéis da moto, seguindo meus instintos, olhando para cada uma daquelas funções – Que para mim era uma nave alienígena – enquanto ouvia o terrível brado da criatura. Provavelmente, iria me alcançar em menos de 2 minutos, considerando que sua velocidade de movimento estava retardada graças ao ferimento que eu impusera em seu abdômen. Não posso me desesperar, tenho de manter a calma. Se eu me perder para mim mesmo naquele momento, iria ser a última vez que eu pensei em tentar algo. Não almejo perecer pensando que não fiz tudo o que podia ou não. Teria de arriscar. Não há tempo para dúvidas. Estava sem qualquer tipo de equipamento de segurança como capacetes – Sendo que o “acidente” está vindo em minha direção – luvas e afins… Mas quem se importaria com isto agora?! Eu só espero que possua combustível – Ou pelo menos um pouco – para eu não virar comida. Com uma rápida análise na moto – Mantendo o sangue frio perante à pressão que se formava ao meu redor – Vi o guidom direito e esquerdo, manete direito do freio dianteiro, Manete esquerdo que possivelmente deveria ser a embreagem… Essa alavanca perto do meu pé esquerdo deve ser a que muda as marchas. Encaixei a chave direito desta vez, ouvindo o encaixe metálico, e o girei para o lado oposto do que havia feito antes, ligando-a – Ótimo! Tinha combustível! – comecei a escutar seu motor ligado – Que foi o mais belo som que já havia ouvido, pelo menos naquele momento – e é claro não poderia me dar o luxo de esperar, decidi confiar em minha intuição que já havia me salvado diversas vezes no passado… Não poderia ser diferente agora. Nunca havia visto como uma moto funcionava, mas pelo menos me lembro dos simuladores de jogos – Teria de contar com a fantasia e juntá-la a realidade – Ligeiramente, me ajeitei em cima da motocicleta, provavelmente já tinha perdido uns 30 segundos até este momento – Não poderia deixar o medo me levar mais cedo para o inferno –. Minha mão já estava no guidom direito, que era onde eu deveria girá-lo para baixo para acelerar, mas teria que tomar cuidado – Tomando cuidado no momento em que tem uma fera tentando me degolar – para não girá-lo brutalmente, pois a moto iria empinar, me arremessar no chão, e ai só faltará o sal e o garfo para a criatura.  Agora, aquele troço que fica no guidom direito, acho que chamam de manete, seria o freio. No simulador, sempre vi o motoqueiro apoiando dois de seus dedos nele – O indicador e o médio – para freiar. Precisarei da mão todo ou somente desta técnica? Se bem que no momento, se eu pensar demais, irei é acabar sem minha cabeça. O manete da mão esquerdo era a embreagem – Ou seja lá o que for isto, só me lembrei por causa dos jogos – irei apoiar os dois dedos nesta também, se colocar toda a mão, poderei não ter controle sobre a moto. Devo apertá-la suavemente, de acordo com a lógica do guidom direito. No meu pé esquerdo está a marcha – O que minha intuição me disse naquele momento – Espero que seja o mesmo esquema que a do videogame, 1 para baixo e 5 para cima. Quinta, quarta, terceira, segunda, Neutro e primeira marcha. Lembrei daquela luz que se acendia no simulador escrito “N” no painel, deve que significa Neutro. Bom… Lá vai. Agora é tudo ou nada. Liberdade ou jantar. Não poderia acelerar devagar, e aqueles gritos com certeza não deixaria eu ter um suave passeio de moto. Segurei a embreagem com os dois dedos, baixei meu pé sobre a marcha para muda-la e… Soltei a embreagem. Escutei o motor estrondar por todo o local. O eco com certeza foi enorme no local – Ou seria somente na minha cabeça? – mas minha alegria durou pouco, quando finalmente ergui a cabeça para olhar para frente – Pois estava olhando o que estava apertando e pisando – o vi pertíssimo de mim, e aquilo saltou na minha direção. Não tinha armas, não tinha como usar alguma coisa para desviá-lo – Como adoraria ter uma escopeta agora. – então… Me deitei na moto. Encostando minhas costas naquele couro macio e duro ao mesmo tempo, enquanto via aquele ser “voando” em cima de mim, que iria atingir exatamente onde estava. Observei o corpo todo daquela criatura, era quase como se estivesse em câmera-lenta, enquanto o via passar. Porém, aquela traiçoeira aberração não iria me deixar livre sem antes me causar algum dano, que é o que aconteceu. Ainda em pleno ar, passou com as garras em meu torso de baixo para cima, e senti o seu rasgo. Por um momento pensei que tudo estava perdido, contudo, quando levantei-me sentado instintivamente, vi que o que foi rasgado foram as roupas que Kaito haviam me emprestado – Muito obrigado meu amigo… – colocando as mãos nos guidons direito e esquerdo enquanto meus dedos iam para os manetes, acelerei. Pelo desespero, acabei por apertar bem forte o acelerador, que fez a moto empinar. Senti meu corpo pesado, minhas costas tensas, junto da sensação do sangue ter deixado meu cérebro. Meus olhos viram aquele teto de ferro junto das madeiras que o apoiavam, e estava começando a cair! Joguei meu corpo para frente, e ficou uma imensa disputa entre eu e a própria moto, ambos tentando ter o controle. Para piorar minha situação, ouvia os alaridos daquele ser – Se é que era um “ser” – não conseguia pensar em mais nada, tudo em minha cabeça estava branco, até que finalmente – E com grande alívio – consegui fazer a moto descer. A adrenalina estava a flor da pele, minha mente se esvaziou totalmente, e comecei a fazer tudo como se fosse bruxaria. Troquei as marchas corretamente, usando muito bem a embreagem. Contudo, para meu pior pesadelo – E bote pesadelo nisto – avistei a saída daquele lugar, cercada daqueles seres que comecei a chamá-los de zumbis. Acho que o eco do motor os atraiu – Ótimo – não daria para passar, pois se eu os atropelassem, com certeza iria cair da moto. Virei-a enquanto acelerava, e a vi derrapando no chão. O tamanho das marcas que o pneu deixava não eram nada comparado com a dimensão do temor que senti. Usando minha perna para ajudar a virá-la, em troca de metade da sola de meu tênis nem ter sequer a chance de se despedir de mim. Vendo a poeira se formar ao meu redor, ouvindo o estrondo de meu tênis naquele solo áspero, enquanto olhava para baixo, concentrando todas minhas forças para virar aquela moto. O vento estava agindo violentamente contra meu cabelo e minhas feridas. Consegui enfim levantar minha cabeça, com a moto finalmente parada. Estava longe deles – Ou pelo menos por alguns segundos – e os vi olharem em minha direção, e virem. A aberração também estava correndo para meu encontro. Eu não iria fugir – Não de novo – peguei um dos pedaços de madeira que despencou das armações, bati sua ponta contra o chão, quebrando-a. Agora não era um simples pedaço de madeira… Era uma estaca. Acelerei com toda minha determinação, mantendo o equilíbrio – Graças a adrenalina – segurando minha mais nova recente arma improvisada com minha mão esquerda – Que é a minha mais fraca – a primeira coisa que meu olho capitou foi a presença da aberração vindo em minha direção. Sim, é agora. Se eu hesitar, irei morrer ali mesmo – Eu tinha isto em mente o tempo todo – então eu terei que superar meus limites – E teria de ser com meu braço mais fraco – agarrei minha arma, castigando meus dedos e minha mão com as farpas. Meus esverdeados olhos olharam nos da criatura – que eram negros – enquanto acelerava. Com um rápido movimento de meu pulso em conjunto dos meus dedos, coloquei a estaca virada para baixo, segurando-a com a mão toda fechada. Ergui meu braço devagar, dobrando levemente meu cotovelo, como se fosse um chicote. A agonia de segurar minha sobrevivência em minha mais fraca mão me incomodava – Queria ser ambidestro – mas não poderia pensar nisto agora. Então o esperado momento chegou. A criatura saltou em cima de mim com terríveis presas e garras, enquanto eu, segurando a estaca apontando para sua cabeça. O momento do confronto chegou.

—Continua—

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